A substituição da escultura de Iemanjá e a fé inabalável dos baianos

A substituição da escultura de Iemanjá e a fé inabalável dos baianos A substituição da escultura de Iemanjá e a fé inabalável dos baianos
                                  Ilustração 1                                                                    Ilustração 2

Na festa de 1971, a imagem que ficava na Casa do Peso, sede da colônia, deu lugar a uma nova. A imagem é o principal ícone público da devoção dos pescadores, e o registro fotográfico mostra essa importância.

A imagem antiga foi tratada como um objeto dotado de tal sacralidade que só poderia ser descartado no "templo" de Iemanjá: o mar. A fotografia mostra o transporte da imagem antiga. O cortejo contou com a participação de Manuel Bonfim, responsável pela confecção das duas esculturas.

A fotografia foi publicada na edição do dia 3 de fevereiro de 1971, na página 2. Embora trate de um registro histórico, a menção ao transporte da imagem é breve:

(...) Junto com o principal presente foi levada nos braços dos pescadores uma escultura de Iemanjá – aquela que permaneceu por muito tempo exposta em frente à praia. Os pescadores disseram que receberam muitas propostas para que a imagem fosse vendida, mas eles recusaram. A escultura foi colocada num barco e depositada em alto-mar. Em seu lugar foi colocada outra imagem, um pouco maior, completamente nova. As duas esculturas são do artista Manuel Bonfim (A Tarde, edição de 5/2/1971, p.2).

O texto não diz quais foram os motivos para a substituição da imagem, mas reforça a aura de sacralidade que os pescadores emprestam ao objeto, pois, mesmo recebendo propostas, recusaram-se a vendê-la. Em lugar disso, preferem incluí-la na mesma dimensão que a sua oferenda para Iemanjá ao levá-la no mesmo cortejo e com o mesmo destino: o fundo do mar.

Outro dado curioso que a fotografia revela é a mudança na representação de Iemanjá. A imagem antiga, da qual podemos ver apenas o rosto, tem cabelos pretos, olhos grandes e até assustados. A substituta representa Iemanjá como sereia. Além disso, ela ganhou uma coroa e segura o abebé, uma espécie de espelho, que é um dos elementos icônicos do orixá.

A festa ancorada na devoção dos pescadores tem conseguido resistir e, ao lado da Lavagem do Bonfim, reúne um público significativo. Já uma celebração parecida que acontecia na Pituba, um bairro vizinho ao Rio Vermelho, também à beira da praia, desapareceu.

Ilustração 1

Elementos constitutivos da fotografia -Fotógrafo: não identificado. Assunto: Festa do Rio Vermelho. Personagens identificados: Manuel Bonfim (segundo na fila, de chapéu). Catalogação em A Tarde: Pasta nº 2757 C - Festa do Rio Vermelho. Tecnologia: analógica, preto e branco. Coordenadas de situação - Tempo: 3/2/1971 Espaço: Rio Vermelho.

Ilustração 2

Elementos constitutivos da fotografia - Fotógrafo: não identificado. Assunto: Festa do Rio Vermelho. Personagens identificados: nenhum. Catalogação em A Tarde: Pasta nº 6064 - Iemanjá. Tecnologia: analógica, preto e branco. Coordenadas de situação - Tempo: 31/1/1978. Espaço: Rio Vermelho.

As imagens e trechos foram extraídos do artigo produzido por Cleidiana Ramos, doutora em antropologia e disponibilizados no site: http://www.studium.iar.unicamp.br/35/06/

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