O reduto do Rio Vermelho

A dissertação de Marco Antonio dos Santos orientado por Dra. Creuza Santos Lage sobre O Papel das Fortificações no Espaço Urbano de Salvador(2012) e divulgados no site fortalezas.org aborda o reduto do Rio Vermelho entre outros.

...Em suma, a escolha do local para se construir uma cidade forte era condizente com a configuração topográfica para um sistema defensivo usado naquele período. O sistema de muros e baluartes perde serventia, quando esses não eram satisfatórios para o amparo defensivo. Assim, o sistema de fortes isolados foi implantado com a expansão da cidade para além dos muros, pois esses já não eram suficientes para defender dos ataques inimigos. O crescimento populacional contribuiu para essas mudanças, pois a população passou a ocupar os espaços fora do perímetro fortificado. Como aponta Fonseca:

As muradas de torreão, feitas pelos holandeses, resistiam às injúrias do tempo, mas a negligência de alguns governadores alia-se aodesinteresse do próprio povo o qual aproveitava a muralha para erguer residência e outras vezes, as rompia para ampliar os quintais, fazendo assim verdadeiras portas, causando grande dano aos muros fortes da cidade. (FONSECA, 1971 p.56).

O reduto do Rio Vermelho

Assim, o sistema defensivo de Salvador foi conjugado pela Casa da Torre de Garcia d’Ávila e por outros redutos atualmente inexistentes, como o de Itapuã e do Rio Vermelho; os fortes do atual Bairro da Barra, São Diogo, Santa Maria e Santo Antônio da Barra; São Paulo da Gamboa, São Pedro, São Marcelo, forte de São Tiago, atualmente conhecido como Forte da Lagartixa, da Jequitaia, Santo Antônio Além do Carmo, Barbalho e Monte Serrat. O sistema de defensivo contava também com outros fortes que hoje já não mais existem.

O abandono do sistema defensivo para cidade de Salvador nos remete a diversos fatores. Em síntese, podemos destacar: as mudanças implantadas pelo Marquês de Pombal na transferência da capital para o Rio de Janeiro; o crescimento populacional, que repercutiu na expansão urbana de Salvador; o declínio econômico da produção da cana-de-açúcar do Recôncavo Baiano e a descoberta do ouro em Minas Gerais, que afastavam recursos para esse novo investimento português para essa localidade.

A importância estratégica das fortificações de Salvador enquanto sistema defensivo, de fato, não teve significativa utilidade, em virtude dos diversos fatores assinalados anteriormente. Entretanto, seu valor para a compreensão da evolução urbana e referência na paisagem dessa cidade lhe confere importância no processo histórico e geográfico deste país...

O Forte do Rio Vermelho (planta 15) teve sua origem como sinalizador da presença de barcos que se dirigiam do norte para a Baía de Todos os Santos. Segundo Oliveira, “esta trincheira de terra não deveria ser fortificação expressiva, porque não foi arrolada por Bernardo Ravasco, em 1660.” (OLIVEIRA, 2004, p. 239). Sua forma deve ter sofrido diversas alterações, pois a ação do intemperismo climático no local era intensa. No início do século XVIII sofreu restauração sob a administração de D. Rodrigo da Costa. (OLIVEIRA, 2004, p. 239).

Em 1711, foi determinado que fosse limpo a cada dois dias em seus parapeitos, em virtude da estadia do Coronel. Segundo as ordens recebidas ao Sargento-mor Inácio Teixeira Rangel, as casas que prejudicavam o poder defensivo do Forte deveriam der demolidas. (OLIVEIRA, 2004, p. 239). Segundo Caldas (1951), em 1759 as condições do forte eram as seguintes:

Este Reduto re de terra, e estâ arruinado instituiose para impedir algum desembarque, que hum ponto pequeno,que ahi há,se podese fazer. As pesas que nele existem estão no chão,e a sua palamenta se guarda em hua’ caza vizinha,e não há de que se tire planta. Tem sinco pesas de ferro estado que já dise:48 balas de Artilharias , 2 coxarras, hum soquete; 3 sacatrapos 4 espeques,4 pes de cabra e 5 arrobas de de bala de chumbo miúda e 13 livras. (CALDAS, 1951, p.383).

Em 1860, através das fotografias de Benjamim Mulock, as muralhas do forte ainda encontravam-se no local. (OLIVEIRA, 2004, p.240). Campos (1940, p.211) descreve sua situação como um equipamento como arruinado:

Há uns trinta anos atrás via-se no recinto do reduto um maciço de cimento sobre o qual descansava por enfeite velha e enferrujada peça de artilharia dos tempos coloniais, apontada para o mar.Desapareceu.Como quase todas as fortificações baianas, passou esta aos cuidados do Ministério da Guerra para os da Fazenda Nacional por ato de 21 de abril de 1937. (CAMPOS, 1940, p.113).

Em relação ao forte, Talento (1999) ainda pontua:

O Exército passou o baluarte para a Fazenda Nacional no início desse século. Até os anos 50, as muralhas resistiram, servindo de local para brincadeiras das crianças, compondo a paisagem com belos casarões coloniais do Rio Vermelho.Mas, em 1953, com o pretexto de construir no local uma praça em homenagem à cantora e atriz Carmem Miranda, que estava no auge da fama, o prefeito Osvaldo Gordilho mandou demolir as muralhas do nível das ruas. A praça nunca foi feita. Então, a paróquia do bairro conseguiu a permissão para erguer ali a nova matriz do Rio Vermelho, pois a antiga, construída na primeira metade do século XIX, tornara-se pequena demais para os fies. Em troca, os paroquianos permitiriam a demolição da igreja antiga, o que nunca foi feito.Coube ao engenheiro Celso Oliveira, a pedido do padre Antônio da Rocha Vieira, construir a nova igreja inaugurada em 1967. (TALENTO, 1999, p.97).

Hoje, apenas resta parte do seu muro e a maior de sua estrutura serve de base para a atual Igreja de Nossa Senhora de Santana no Rio Vermelho.

Confira na íntegra: O Papel das Fortificações no Espaço Urbano de Salvador

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O Forte do Rio Vermelho (planta 15) 

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